Laura Redfern Navarro é poeta e quase-formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Toca a plataforma literária independente @matryoshkabooks, focada em literatura brasileira contemporânea. Pesquisa o testemunho enquanto subversão do trauma, do feminino e do corpo em “O Martelo”, de Adelaide Ivánova. Publicou, em 2020, o livro Matryoshka (Desconcertos) e colabora com a equipe de poetas da FaziaPoesia desde 2021.
resposta à Sylvia Plath
One day I’ll die and somebody will take my insides
I’ll walk around just a corpse, I’ll make no sound
Someone catch me, I will lie (no one, no one)
Someone catch me, I will lie (no one, no one)
Needs no progress, I will lie
Salvia Palth
Gosto de pensar que a vida toda fui um gato
às vezes me jogavam em água escaldada
às vezes em água fria mas o que mais me
espanta é que nós dois somos infelizmente
imortais por umas 7 vezes, no meu caso
foram três tentativas. Em realidade, vejam
as suturas e as lavagens doeram menos
do que saber que eu ainda estava viva
um peso morto sinceramente porque
eu fui atrás de respostas a vida inteira
igual uma ratazana eu perguntei até
nos manicômios e ninguém disse um a
a bem dizer eu de repente andei na
rua durante um isolamento por doença
igual um verdadeiro suicida e pensei
que o meu cérebro ele operava em modo
de Deus e zumbi porque ninguém pode ser
Deus por muito tempo e zumbi porque dá
licença euforia não mata ninguém e eu vivo
eternamente imortalizada, acho, e no fim
o meu corpo é apenas palco dessas
máscaras. Mas por enquanto eu
hiberno e encarno um zumbi mau-humorado
e completamente incapaz de se expressar.
no fim das contas eu devorei o meu
próprio cérebro antes que ele me
matasse por completo. E estou
morta mas como Lázaro eu ainda
cumprimento você na rua.
Metalinguagem IV
Querem dissecar
Meus órgãos
Eu ainda não sei como entregar
Algo tão vazio e sem sangue
Pronto à mesa
Então apenas elaboro um pequeno
Mapeamento do sangue
Um pouco de nada
Estou com a caneta na mão
Tinta azul que cintila meus
Dentes
A ira
Quero atirá-la
Ao
Ventilador
Ligação para alguém no fim do mundo
(para Luís Mauro)
As palavras são enclausuradas de si
E um pouco autoritárias
E por isso eu não
consigo penetrá-las a fundo
quando as mesmas parecem fétidas
retiradas de um esgoto particular
de uma lentidão que talvez pinique aos outros
mas que são inofensivas justamente
pela ausência de expressão
Eu não me rendo à prosa
pois tenho medo de jogar meus pensamentos
desprovidos de algum sentido
eu estaria sendo um coveiro neste caso.
eu mesma cavei as palavras suficientes
ao meu corpo, e entrei em luto
pois nada eu compreendia
havia engasgado muitas tintas diferentes
e não sabia como fazê-las dançar ao vento
Carol me disse certa vez que
se você não sabe se movimentar
como vai dançar? E eu não sabia
como responder à altura
nunca
Fôlego.
Um estado de espírito é o suficiente para
desnudar o homem ao ponto de ele achar
que há erro dentro da poesia
residiria ali a minha escolha?
eu não gosto de rimas e tento me esquivar
delas, mas às vezes me dá uma vontade
de montar versos de amor minha dor
mas o erro não está nas rimas
talvez em seu princípio precipício
Eu optei
Tentei expressar algo hoje, talvez a incerteza
do que somos, um pouco como Lady Lazarus
mas fiquei afoita porque o vazio do meu tom
e o meu tamanho, infelizmente, são risíveis
e sou péssima contadora de histórias
apenas atiro pelos cantos feito chuva
numa incompletude que me faz de sombra
as xícaras se partem ao chão de forma aflitiva
mas, nos confins da neurose, o excesso é
conjunto vazio.
ouça, e não ouvirás absolutamente nada.